quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Anunciação

garota namorando um grafite

Não é sólido e nem tem corpo,

mas me enche de verdade.

Leve feito brisa me toma, sereno, toda noite.

Sua voz — de veludo e seda — me seda

e tenho sua silhueta meio fog, tênue e suficiente.

Assim é meu anjo meio gente!

Sempre aparece rindo — infalível contágio —

como dizer não?

Desarmo, desando, fico molinho...

Me derreto e arrisco no que o anjo quer.

 

Lembro Maria Helena e seu anjo-xícara,

tão frágil, tão preciso.

Leio Rilke e suas criaturas necessárias à alma.

Eu sempre invejei os possuídos

ou possuidores de seres inefáveis.

Hoje, envergonho-me da minha cobiça.

Precisava chegar a hora certa,

o meu anjo-fog não viria de véspera.

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