URHACY FAUSTINO - Eu tento fazer um pouco de tudo, mas em geral pintar é meu terceiro oficio. No entanto, arte não toma todo meu tempo... Diariamente eu planto flores, cuido dos meus animais, cuido da casa. Lavo roupa, cozinho... Entro em depressão... Acordo irritado... Sou um ser humano normal, comum. Até normal demais, porque gosto de tudo o que tem a ver com tarefas caseiras e de fazer as minhas coisas.
SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário?
URHACY FAUSTINO - Foi uma conseqüência natural, conforme eu ia lendo durante meu processo de formação, eu me encantava tanto com a leitura, com o ofício do fazer.
SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País?
URHACY FAUSTINO :
- Os lírios negros, Editora Edicon, poemas
- Nus anos 80, Editora Edicon, poemas
- Laços e embaraços, co-autoria com Mario Mattos, Editora Edicon, poemas
- Bom-dia sol, boa-noite lua, co-autoria com Sandra Mara Amaral, Editora Edicon, infanto-juvenil
- Só se for a 2, co-autoria com Leila Míccolis, Editora Edicon, poemas
- O pulo do sapo, co-autoria com Claudia Pacce, Editora Moderna, infanto-juvenil
- Olhos rasgados, Editora Blocos, haicais
- Estalos, Editora Blocos, haicais
- Sonhos e confiscos, Editora Blocos, poemas
- Colibri deflora os chats, sexo, amizade e amor pela Internet, Editora Blocos, romance
- Gênesis Revisitada/Noite e cia, Editora Blocos, poemas
SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir literatura?
URHACY FAUSTINO - No meu caso solidão. Eu preciso estar mergulhado em mim, totalmente voltado para dentro, para o íntimo e interno como é o sêmen.
SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?
URHACY FAUSTINO - Muitos. Amo muita gente. Lygia Fagundes Telles é um mundo. Leila Miccolis e toda a geração de 70. Rainer Maria Rilke é deus de Praga e meu.
SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?
URHACY FAUSTINO - Não sou muito chegado a mensagens de incentivo não, porque motivação vem de dentro, vem da gente e não dos outros... Mas... Rilke, em "cartas a um jovem poeta", aconselha o jovem Franz Cappus a se autoinvestigar, a procurar dentro de si respostas a todas as dúvidas com relação a carreira que deveria escolher... a avaliar riscos e a decidir o caminho a seguir, sem se arrepender da escolha, tardiamente.
POEMAS

inversão de valores
Na minha infância
não conheci moeda,
senão o celeiro cheio
e as vacas gordas.
Precisava de roupa
trocava algodão por fazenda.
Carecia de aliança
trocava o trigo pelo ouro.
E éramos felizes!
Meus irmãos iludiram meus pais
com a visão dos novos tempos
e modernizaram tudo.
Saíram das tetas das vacas
direto para as teclas dos computadores:
não conseguiram ordenhar as máquinas.
Hoje trocamos dívidas.
animais de estimação
Cães e gatos
nunca entraram na minha casa.
Talvez porque papai achasse
que bastava eu e meus irmãos.
exposição de desmotivos ou imposição de motivos
Não há porque amar Dante
se é Rilke quem me seduz.
Não há porque amar Michelangelo
se são Monet, Miró e Van Gogh
que fascinam as meninas
— dos meus olhos.
Não há porque amar Charllote
se é Emily quem me tem por horas.
Não há porque explicar a obra de arte,
muito menos o amor.
a olho nu
Ontem vi a lua
cobrindo o sol, em plena rua,
me disseram ser um eclipse.
Para mim era coito, ipsis litteris.
reversão
Em toda safra
meu pai fazia espantalho
para espantar passarinho
— heranças do meu avô.
Escondido entre os galhos
eu vi a vida amadurecer
meu pai empobrecer
meu avô falecer
— rugas fundas, cova rasa...
Herdar o espantalho, nunca!
Eu bati asas.
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/2009/11/momento-litero-cultural-entrevista-com_04.html