quinta-feira, 1 de abril de 2010

De insistência: o reencontro com o anjo-fog



p/ Leninha, Eduardo, Patrícia e Jorge, com pureza

Sabe encanto? Céu estrelado e noite de conto de fadas? Dormir aconchegado e acordar com orquídeas vivas e floridas no tronco de árvores frondosas? Então, árvores frondosas e protegidas por uma fada de riso criança e olhar inocente! Árvores frondosas como deveriam ser todas se nós protegêssemos o meio ambiente. Árvores frondosas, antigas e sólidas como deveriam ser a amizade e o amor. Orquídeas floridas — apresentadas pela fada menina a nós, seus quatro visitantes — como deveriam ser os dias coloridos e singelos.

Há muito tempo não vejo encanto! Há muito tempo, não durmo tranqüilo. Na verdade, há muito tempo nem durmo (são cinco horas da madrugada agora!). Tem sido uma busca constante por uma identificação, seja de alma, de olhar, de pensamento. Algo que me acene, com uma possibilidade e compreensão de um mundo que vislumbro. Até mesmo o elemento poético, que durante muito tempo me acompanhou tem ficado de lado. Eu comecei a ver as coisas como elas são e não como costumava querer enxergá-las. A poesia deixou ter a minha compreensão há algum tempo. Lastimável eu sei! Sempre quis acreditar no anjo. O anjo que chamei de fog e que desmedidas vezes me foi tênue o suficiente, mas há algum tempo se tornou, vago e talvez — e eu odeio advérbios. Esvaiu-se como a fumaça de meu cigarro. Imprevisível. Sem data de retorno.

A vida ganhou um contexto de duplo sentido, como no poema de Leila Míccolis: “a vida é um constante exercício de mãos criando asas, de pés pisando em brasas". Os tais pés pisando em brasas que eu relutei por não tê-los e que, calejado pela vida, eles brotaram em mim, quase que, como a perda da virgindade ou a idade que avança: inevitáveis... Todavia brotou intenso, pesado não como a crise da meia idade (eu não tive a comum crise dos quarenta), mas como a total perda da minha ingenuidade. A característica que me identificou durante minha vida toda. Recordo-me de Leila me dizendo há vinte e um anos atrás: “sua principal qualidade e seu pior defeito: sua ingenuidade”. Eu sempre acreditei em verdades! Há poucos anos (acho que há cinco anos) eu comecei a ver que não existem verdades absolutas, e isso me frustrou muito. Eu achava o sentimento incontestável, como é o amor de uma mãe. Eu concebia a amizade intocável, como são intocáveis os filhos da coruja. E há pouquíssimo tempo eu me dei conta que tudo tem diversos lados e que não é como a mangueira frondosa, que, se protegida, todo ano floresce, dá frutos e se perpetua. É um Urha antes e um Urha depois de cinco anos atrás e, juro, eu me amo mais quando penso no ser que eu era antes de abrir os olhos. Antes de duvidar. Eu tive um professor que dizia que a dúvida é o começo da investigação intelectual, o começo do saber. Mas, eu odeio duvidar!

O abrir das cortinas se deu de forma inesperada e traumática. Um trauma tão forte que me perco ou deixo de fazer as coisas que mais amo: como escrever a vida de meus vampiros Arthur e Ita (o amor da dicotomia: bem versus mal, o que só é lindo em teoria) ou admirar minhas abelhas indo e vindo para a colméia com suas patinhas cheias de pólen.

Naquela noite de sexta e no amanhecer de sábado, eu reencontrei com meu passado, com minhas crenças, com o anjo-fog quase personificado e acordei despido da sensação que me assusta: destes pés que pisam brasas. Eu acordei ingênuo e menino de novo. Clima? Lua? Orquídeas? Amigos? Magia? Encanto? Asas? Enfim, dúvidas, incertezas e divagações.


2 comentários:

Eduado Lourenço disse...

Li seu texto;lindo por sinal. Confesso que não sou muito bom em comentar coisas do tipo, talvez pq sinto-me limitador ao fazê-lo, talvez pq prefiro apenas aprender com o que leio e escuto e semear minhas duvidas sobre quase tudo.
Enfim, é interessante pq antes sabia apenas quem eras e agora lhe conheço um pouco. Isso faz toda diferença quando compartilhas algo comigo.

Saudades...

Forte abraço

Urha disse...

eduardo, q bom que gostou. eu acredito que colhemos o que semeamos... eu acredito que aprendemos com tudo. e eu acredito em dividir, partilhar, compartilhar. e eu estou aprendendo muito com vc: não ter pressa, nao desesperar. um grande abraço e a saudade.
urha